“A paixão é um sentimento tão forte quanto o amor.
Uma das melhores sensações da vida, se não até, a melhor delas.
Uma pessoa apaixonada deixa o juízo tirar férias em qualquer mês do ano. Sem prévio aviso.A paixão tem gosto forte, provocador. Uma caça esperando seu predador.
Torna os movimentos impulsivos, os pensamentos desesperados.
Não é gentil. Nunca!
A paixão manda, provoca, digladia impetuosa com a razão e sai vitoriosa. Sempre!
A paixão é um porre no buteco de bebida barata, ressaca premeditada. E o amor é o descansar sereno de um vinho caro na adega para uma celebração especial.
Um casal apaixonado quer despir-se em qualquer lugar. Volúpia incontrolável.Não há tempo para encontrar uma cama, um quarto. Não deixa para depois.
Ela atiça, envolve. Prende os pés. O corpo. Aprisiona a alma.
A paixão não faz amor. Realiza a sofreguidão sem nenhuma moralidade.Quem dera todas as manhãs fossem paixão…
O trabalho se tornaria menos árduo.
A loucura irracional encurta as horas.
O dia se dispersa rápido na espera do anoitecer para correr aos braços da cara metade. A alma gêmea.
Mas a paixão é efêmera…E suas algemas são ilusórias.
E a paixão enfraquecida liberta a alma.
Quando a paixão adoece, fragilizada pela rotina, desacelera o tempo, as férias do juízo acabam e nos traz de volta para casa, com a mochila vazia.
E aquela volúpia incontrolável leva o casal, agora sóbrio de realidade, para um quarto.Os olhares amenos e o silêncio na calmaria do momento, adormecem seus corações no abraço um do outro.
Não há remédio para a doença do “desapaixonar”. Não há cura!
E uma dose a mais de ilusão entorpece a razão enfurecida, na ausência de desejo.Sufocada pelo aperto do pudor, morre bêbada na saudade de outrem.
Ou a paixão vira amor perpetuando-se na vida à dois, ou dali adiante será apenas mais um aceno de Bom dia.”
Ângella Ventura